O Poço esquecido (poema de Tiago Eurico de Lacerda)



O poço esquecido

Por Tiago Eurico de Lacerda

Encontrei um lugar muito bom para pensar.
Aqui há um açude de cimento sem água, um tanque antigo.
Nele só há folhas secas das árvores que o ladeia.
E é em sua sombra que me refugio do sol.

Olho para um lado, campo.
Olho para o outro, serras.
Bem longe avisto os prédios do centro da cidade.
Aqui o vento traz paz, faz música
Tocando os galhos e suas folhas secas no fundo do tanque.

Enfim me encontro só, ou melhor, eu e o poço,
Mas sei que nós dois não estamos abandonados.
Ele me faz lembrar, pensar, rezar.
E eu quase me esqueço, era eu o poço e o vento.

Aprendi que opaco pode brilhar,
E o que hoje brilha, amanhã já não será.
Nesse tanque profundo e largo já houve esperança,
Que com suas águas se esgotaram,
E por seu estado, nada e ninguém o ajudou.

Hoje é um tanque qualquer,
Em lugar nenhum e sem provisão.
No passado foi a fonte da abundância,
Do doar-se, do servir.

Ele fez sua história, escreveu suas páginas,
Arrancou muitas lágrimas.
Ele passou pelo percurso natural da vida, ele veio e se foi,
Como uma semente que tem que morrer para dar frutos.
E seus frutos também passaram.

E mesmo assim queres saber se dele se lembram?
Deixe que a história conte seus próprios contos.
Que os pontos se lembrem e se esqueçam,
Mas que marquem as páginas escrita com a vida.
Tiago Lacerda

Professor no Departamento de Ciências Humanas e Sociais - UTFPR - Campus de Londrina. Professor do Quadro Próprio de Magistério da SEED-PR. Mestre e doutor em Filosofia pela PUCPR.

2 Comentários

  1. Oi, meu irmão
    Troco a tua palavra do primeiro verso: de PENSAR ouso colocar REZAR... sabe por que? Foi o que fiz ao ler este poema tão lindo e profundo... Só os que amam sabem reconhecer o amor presente no outro... "AME e faça tudo o que quiseres"...
    Estou sempre buscando o que vi também em ti, amigo... Continuemos firmes na Procura... Ele nos alcançará!!!
    Abraço-o com saudade e carinho
    Roselia

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  2. Cara Rosélia,
    É com muita estima que agradeço a sugestão.
    Sabe, escrevi este poema em Fortaleza-CE, estava num lugar que se chamava CEU, era um condomínio espiritual, o lugar simplesmente é para REZAR.
    E de coisas simples, conseguimos pensar, rezar em tantas coisas belas, não? Foi um momento muito produtivo para mim, e partilho para que possa ser um sinal para outros também em perceber que o simples, traz consigo mistérios profundos.

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